Diabetes

A Diabetes é uma consequência frequente da transplantação de órgão sólidos.

Associa-se a uma maior taxa de complicações e a uma maior mortalidade. Por isso é necessário conhecer alguns factos importantes sobre esta doença, controlável desde que atempadamente diagnosticada e com uma boa adesão à terapêutica.

Se já for diabético antes do transplante é importante que os médicos o saibam para iniciar, o mais cedo possível, um conjunto de medidas de vigilância e correção, fundamentais para o sucesso do transplante. Mesmo que não tenha sido definitivamente estabelecido o diagnóstico, importa saber se já teve elevações significativas da glicémia (açúcar no sangue) durante internamentos com infeções, associadas ao uso de maiores doses de corticoides, ou durante a gravidez.

O risco de vir a desenvolver diabetes após o transplante é maior em quem tenha uma família próxima (pais, irmãos, tios) com muitos casos de Diabetes tipo 2, em quem tenha um peso excessivo, uma vida sedentária e em quem sejam necessárias maiores doses de corticóides e fármacos imunossupressores, usados para evitar as rejeições.

Sabe-se que os corticoides aumentam a resistência à própria insulina e os imunossupressores (micofenolato de mofetil, ciclosporina, tacrolimus, sirolimus) têm um efeito tóxico direto sobre as células do pâncreas que produzem a insulina. De todos, o tacrolimus parece ser o mais implicado, com um efeito diabetogénico cinco vezes superior ao da ciclosporina. Mas há muita susceptibilidade individual, o que explica que nem todos os indivíduos desenvolvam diabetes quando tratados com estes medicamentos.

Para prevenir a Diabetes após o transplante é muito importante corrigir ou anular os possíveis fatores de risco – controlar o peso, iniciar ou melhorar o programa de atividade física e, sobretudo, cumprir uma alimentação regrada, que consiste em fazer várias pequenas refeições ao longo do dia, não comer grandes quantidades às refeições grandes e reduzir o consumo de açúcar, de sal e de gorduras.

Para se fazer o diagnóstico desta situação é necessário:

  • Estar atento a eventuais sintomas como ter muita sede, urinar com frequência, sentir um cansaço excessivo, irritabilidade, visão turva, ou emagrecer inexplicadamente;
  • Aprender a vigiar a glicémia capilar (picando o dedo), antes de uma refeição ou 1h30 após uma refeição – a Consulta de Diabetes do Hospital fornece gratuitamente os aparelhos (glucómetros) e o ensino necessário à sua utilização. De salientar que muitas vezes a glicémia é normal nas análises em que o sangue foi colhido de manhã, em jejum, podendo ser muito elevada durante e ao final da tarde (relacionado com o efeito dos imunossupressores) e, por isso mesmo, ser imprescindível avaliar a glicémia a esta hora;
  • As análises ao sangue permitem medir um parâmetro que avalia a média da glicémia nos últimos 3 meses – a hemoglobina A1c, o que ajuda a determinar o grau de controlo do açúcar e, nesta fase, perceber se já se encontraria elevado há mais tempo, mesmo sem sintomas.


Se for feito o diagnóstico NÃO DESESPERE! 

O apoio da Consulta de Diabetes, que muitas vezes começa no internamento, estende-se bem além da alta.

Quando é necessário adicionar fármacos para corrigir a glicémia é frequente que a escolha recaia na insulina, uma vez que tem menos interações com todos os medicamentos que tem de tomar e, sobretudo, porque é muito adaptável. É fácil, mas imperativo, aprender a usar as canetas, a saber quais os locais de administração e a perceber o seu funcionamento- mas uma vez mais cá estamos para tirar dúvidas.

Sabe quem faz insulina que não é nenhum drama e que é fácil a aprendizagem e a adaptação. 

Avaliar a glicémia, que poucas vezes impõe picar o dedo mais do que 1-2 vezes por dia, é além disso uma arma de vigilância insubstituível – vão ouvir-nos muitas vezes dizer que “é como um termómetro – se o açúcar sobe, tem de haver uma razão! – e se não foi asneira a comer, nem tão pouco uma ansiedade acrescida, nem subiu a dose de imunossupressores, então há que descobrir o que vai mal!”. 

É que é muitas vezes sinal de uma infeção que ainda não se manifestou.

O segredo é não ter medo. É confiar e pedir ajuda. A nós e entre vós. Mas disso dão vocês lições…

Rita Barata Moura

Assistente Hospitalar Graduada de Medicina Interna

Responsável da Consulta de Diabetes do Hospital de Santa Marta

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